Alterações do processamento sensorial não deveriam ser um problema num planeta que já inventou o protetor auricular e os óculos escuros.
Porém autistas que tentam utilizar elementos deste tipo para seu conforto encontram críticas e julgamento por parte de neurotípicos. Isso sim é fonte de sofrimento.
As alterações do processamento sensorial são um dos maiores desafios enfrentados pelos autistas, em alguns casos impondo severas limitações. Paradoxalmente, são um dos assuntos menos explorados nas pesquisas, havendo quem aponte que pesquisadores neurotípicos não se dedicam a elas pois não impactam a vida dos pais, professores, e demais neurotípicos que convivem com autistas. Essa hipótese se reforça quando notamos a relativa abundância das pesquisas sobre dificuldades com linguagem e socialização.
Com o crescimento da presença de pesquisadores e profissionais autistas envolvidos no processo, a tendência é que essa desigualdade desapareça. Por outro lado, os relatos de adolescentes e adultos autistas revelam o quanto deste sofrimento é causado pela cultura neurotípica, quando esta dificulta que o autista utilize elementos de suporte à suas necessidades sensoriais.
Autistas enfrentam desafios quando colegas de trabalho interpretam estes ajustes como privilégios, ao invés de suporte. Ficam frustrados quando familiares interpretam como sinais de desinteresse interpessoal os óculos e fones que o autista utilizou para poder ficar na festa de família. Se exasperam com comentários a respeito da maneira “errada” como comem a comida que está em seu próprio prato. Experiências abundantes de punição e rejeição social permeiam as tentativas dos autistas de ajuste sensorial.
É preciso repetir à exaustão: suporte não é privilégio. Suporte é necessário para que possamos estar tão confortáveis quanto os neurotípicos nos ambientes que frequentamos.
Não resta dúvida de que as alterações do processamento sensorial são assunto central na discussão da qualidade de vida do autista, porém está cada vez mais claro que este debate precisa sair do mundo tea e invadir o mundo neurotípico, se quisermos realmente construir uma sociedade mais inclusiva.