Tatiana Perecin - Psicologia Clínica
Alguém que compartilhe conosco as responsabilidades envolvidas no trabalho com psicoterapia: essa é uma das principais funções da Supervisão Clínica. Um espaço de aprendizado e aprimoramento, e que nos protege de um dos maiores riscos ocupacionais da nossa profissão - o peso das decisões envolvidas na leitura e condução de casos onde há sofrimento mental intenso ou risco de vida.
O autista tem um cérebro que é estrutural e funcionalmente diferente do cérebro dos neurotípicos e, por esta razão, as estratégias e soluções que funcionam para estas pessoas são diferentes daquelas que funcionam para neurotípicos.
Autistas são excelentes em identificar padrões e em resolver problemas, porém, às vezes, exageram - e tudo o que é demais faz mal. A esse exagero do pensamento analítico, com categorias insuficientes, é o que chamamos de pensamento rígido.
O hiperfoco é fonte de reforçadores positivos! Portanto, fica claro perceber que o hiperfoco não é algo a ser tratado, reduzido ou muito menos eliminado do repertório do autista.
E por que saber isso é indispensável para atender autistas adultos? Chamamos de habilidades cognitivas tudo aquilo que sabemos fazer (por exemplo: saber cozinhar, dirigir, ensinar algo, falar uma língua estrangeira).
O cérebro autista tem mais sinapses que o do neurotípico, o que resulta num cérebro mais interconectado. Isso faz com que ele funcione diferente. Uma das áreas onde essa diferença é muito perceptível é a do processamento sensorial.
Essa á uma questão muito polêmica! Para responder, temos que considerar: O que é necessário para atender um autista?
O autismo é considerado uma deficiência invisível, na medida em que o autista difere do neurotípico nas experiências internas, encobertas: são diferenças no sentir, no pensar, na maneira de experimentar o mundo. Essas diferenças não podem ser observadas por outro indivíduo. Por isso, é tão importante os autistas terem voz e participarem ativamente no desenvolvimento teórico e prático do tema.
Você sabe qual é a diferença? Pessoas com desenvolvimento atípico adquirem habilidades mais lentamente que os outros, ou nem mesmo chegam a desenvolver estes repertórios. No desenvolvimento típico, de tempos em tempos o cérebro faz uma “limpa” ns sinapses que não estão sendo utilizadas - a poda neural.
3 dos principais motivos dessa dificuldade são: masking, DSM e o adoecimento do autista.
Suporte não pode ser impedimento para autonomia! O autismo é um transtorno definido em 3 níveis, baseados em quanto suporte é necessário para a pessoa desempenhar as tarefas da vida diária. Porém a autonomia é uma das necessidades básicas para a garantia da saúde mental de um adulto.
Alterações do processamento sensorial não deveriam ser um problema num planeta que já inventou o protetor auricular e os óculos escuros. Porém autistas que tentam utilizar elementos deste tipo para seu conforto encontram críticas e julgamento por parte de neurotípicos. Isso sim é fonte de sofrimento.
1. Tentar transformar o autista em neurotípico; 2. Atender autistas sem entender de autismo; 3. Atender autistas adultos com estratégias adequadas a crianças tea.
O atendimento a autistas adultos é repleto de desafios e contradições que se não forem bem manejadas pelo psicoterapeuta, podem prejudicar o cliente. Um destes desafios é lidar com os hiperfocos do cliente.
O neurotípico busca pertencimento através de conformidade social e respeito a hierarquia. Já o autista busca pertencimento ao solucionar problemas que afetam o grupo. Percebam, ambos neurotípicos e neurodivergentes buscam o pertencimento social, apenas a forma com que buscam é que muda!
Comunicação e interação social são dificuldades do autismo, mas certos fatores “ajudam a atrapalhar”. Em especial, falar sobre e descrever o autismo apenas com o vocabulário/pensamento neurotípico.
1. Característica não é sintoma 2. Autismo é espectro; cada autista tem características próprias em intensidades diferentes 3. Autistas se beneficiam de interação social que respeite suas características
Autismo não é doença, e portanto não se cura. Isso também significa que uma pessoa autista continua autista ao longo de toda a sua vida, ainda que desenvolva estratégias para superar suas dificuldades.
“Tati, mas porque você se refere a nós como clientes? O certo não seria pacientes?”
Porque psicólogos e clientes não podem ter uma relação pessoal, é comum algumas pessoas acharem que isso significa que o psicólogo não nutre sentimentos pelos seus clientes. Mas isso é um equívoco.
É uma dúvida comum, mas o psicólogo pode sim atender pessoas que se conhecem. Se não pudesse, não existiria a terapia de casais nem as terapias de grupos (ou em grupos).
Resposta curta: não. Nem parente, nem amigo, nem ninguém com quem ele tem uma relação pessoal. E se você leu os textos anteriores, já deve estar imaginando o porquê.
Vamos falar sobre a relação entre o psicólogo e o cliente? A terapia é um processo que tem um viés pedagógico. Ao longo dela aprendemos coisas novas, estratégias, habilidades, que irão nos ajudar a produzir uma vida mais plena. Isso quase todo mundo sabe. Mas o que nem todo mundo sabe é que a terapia pode promover mudanças sem nem mesmo lançar mão desses complementos; a relação entre o cliente e o psicólogo pode ser terapêutica em si. Como isso é possível?
Dica de livro: Forty studies that changed psychology - Roger R. Hock Primeiro ano do curso, aula de Psicologia Geral: o querido professor Julio De Rose nos apresentou à psicologia utilizando esse livro fantástico, e creio que foi a faísca inicial da minha paixão por essa ciência.
O trabalho em psicoterapia clínica é fascinante. No meu caso, foi o casamento da profissão com a paixão. Mas ele tem um outro lado menos adorável: pode se tornar um trabalho muito solitário. A responsabilidade por todas as decisões envolvidas na leitura e condução de casos onde há sofrimento mental intenso, chegando inclusive a envolver risco de vida, pode se tornar uma carga opressiva.