Rigidez cognitiva no autismo
- Tatiana Perecin
- 2024-09-23
- Supervisão
A natureza dotou o ser humano com um sistema de simulação da realidade que no permite testar hipóteses e avaliar estretégias de ação no mundo sem precisar “dar a cara para bater” na realidade. Esse sistema é o pensamento, e quando ele funciona bem, nos ajua a tomar decisões que produzem ganhos.
Autistas são excelentes em identificar padrões e em resolver problemas, muito em função de seu pensamento analítico: criam categorias e organizam suas percepções em função delas. É a base do pensamento científico. Porém, às vezes, eles exageram - e tudo o que é demais faz mal.
O exagero do pensamento analítico acontece quando, na tentativa de simplificar o mundo para entender, autistas reduzem demais as categorias, e terminam com um sistema simples demais para representar um mundo complexo. Ao invés de facilitar a compreensão, o sistema atrapalha.
O exagero do pensamento analítico, com categorias insuficientes, é o que chamamos de pensamento rígido, pensamento 8-80, ou pensamento não-dialético. Este estilo cognitivo é fonte de sofrimento emocional, pois leva a tomadas de decisão que não funcionam e geram perdas.
Um exemplo é quando o autista tenta classificar pessoas em “boas ou más”, e termina por colocar todo mundo na 2ª categoria, já que todas as pessoas cometem erros. Um sistema mais adequado seria mais complexo: boas, razoáveis, médias, abaixo da média, ruins - a grande maioria nas categorias intermediárias.
Na psicoterapia do autista adulto é necessário readequar o estilo cognitivo do autista quando este é fonte de sofrimento. Em geral, autistas, que são muito bons em pensamento analítico, acabam exagerando e caindo no pensamento rígido.
Um terapeuta bem treinado identifica com facilidade quando as dificuldades do autista estão baseadas neste erro cognitivo, e direciona os autistas para outras maneiras, mais produtivas, de utilizar o nosso “gerador de realidade virtual” que a natureza nos deu.
O aumento da complexidade dos sistemas de entendimento adotados pelo autista, junto ao incentivo do pensamento dialético - a capacidade de identificar situações onde dois extremos fazem parte do mesmo inteiro, onde dois opostos são lados da mesma moeda - são estratégias que ajudam o autista a tirar o melhor proveito possível de sua capacidade de pensamento.