Dificilmente um autista vai chegar para a psicoterapia se queixando de hiperfocos e interesses, já que estes são fonte de prazer, e não de sofrimento. Porém a dedicação a eles pode conflitar com seus valores, como manter um relacionamento ou cuidar de sua família.
O atendimento a autistas adultos é repleto de desafios e contradições que se não forem bem manejadas pelo psicoterapeuta, podem prejudicar o cliente.
Um destes desafios é lidar com os hiperfocos do cliente.
Por constar nos manuais diagnósticos como “sintoma” de autismo, há profissionais que acreditam que precisam livrar o autista de seus hiperfocos. Este é infelizmente um equívoco comum que diminui sensivelmente a qualidade de vida do autista. Hiperfocos são fontes de prazer e satisfação para o autista, quase na mesma medida em que a socialização produz prazer em indivíduos neurotípicos. Um autista privado de contato com seus hiperfocos é um autista propenso a deprimir.
Por outro lado, a atenção excessiva aos hiperfocos pode conflitar com a dedicação a outras áreas da vida que também tenham importância para o cliente. Relacionamentos interpessoais, família, vida social, trabalho, alimentação e higiene pessoal, todos estes aspectos sofrem quando o hiperfoco vira o centro da vida do autista.
O atendimento ao autista precisa estar centrado na ideia de ajudar este indivíduo a construir uma vida que valha a pena ser vivida. Nesse sentido, os hiperfocos precisam ser equilibrados com outros objetivos valiosos para a conquista de uma vida significativa, e o psicólogo precisa estar preparado para ensinar ao autistas estratégias de manejo de seus hiperfocos, na busca deste equilíbrio.
Se você é psicólogo, me conta aqui embaixo: quais estratégias você ensina a seus clientes para o manejo dos hiperfocos? E se você é autista: como você equilibra a dedicação a seus hiperfocos com outros objetivos importantes em sua vida?